quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Mais do mesmo

Chuva lá fora, frio dentro de casa e eu a organizar-me para a tese. Na verdade, acho que a tese e o trabalho de doutorado é uma fase de expiação. Durante o tempo que estou envolvido com o meu projeto, desde 2014, penso que nunca tirei férias. Todo o nosso tempo é dedicado para pensar em algo, ver, analisar, tentar, rever, revisar e tentar de novo. Esse processo de vai e vém é para além de uma construção do pensar, do ser acadêmico, do reformular, apenas é.

E o ser que se (re)constrói no processo da pesquisa surge muito diferente do que foi. De minha parte, eu tenho a compreensão que já passei da fase de achar que serei um acadêmico estupendo, como alguns de meus professores em Coimbra. O ser acadêmico é um processo que começa, invariavelmente, ainda nos bancos da graduação. E estou longe de ser algum pesquisador que sempre esteve envolvido com a investigação e o ambiente universitário. Tenho ranços demais, falta de noção demais, português de menos, ignorância demais para me comportar como um professor/investigador. Percebo, de maneira clara, como estou sempre deslocado. Minhas perguntas são na hora errada, o meu jeito é inapropriado e a forma de pensar é diferente. Disso não tenho dúvidas.

Assim como também não tenho dúvidas que a consciência sobre o meu deslocamento está mais para ponto positivo do que negativo. Reconhecendo a minha, no fundo, estupidez sinto-me livre para agir ou falar o que realmente se passa na minha cabeça, naquele momento. Não pensar na "práxis" que envolve o ser acadêmico é deixar livre o ser estudante. Isso não quer dizer que é algo agradável ou super belo. Afinal, qual é o estudante que não quer ser igual ao seu professor predileto?

Estou em um bom momento. Sei o que eu fiz durante o meu trajeto de doutorado. Sei onde posterguei e onde adiantei a minha pesquisa. Onde fiquei mais próximo do acerto e onde falhei por completo. Onde escrevi na hora que tinha que brincar e onde brinquei na hora que tinha que escrever. Toda a construção que vivenciei trouxeram-me para esse momento que não tem mais espaço para outra coisa a não ser colocar em linhas tudo o que vivenciei durante esses anos e, em especial, a partir de 2010. Para variar, ainda aprendo bastante e estou livre o bastante para continuar a ser o estudante que sempre fui.

Inté!

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Volta às aulas

Então chegou a hora. Depois de três meses de férias, hoje, as crianças retornam às aulas. Foram três meses bem juntinhos e fazendo muitas coisas. Três meses de alegria e muita ação. Foram tantas as atividades que, inclusive, não consegui chegar perto do meu trabalho, a escrita da tese. Ter as crianças por perto é uma coisa muito boa. Ficar com elas e compartilhar cada momento, não deixava qualquer vontade de escrever. Sem contar que as tentativas que eu fiz foram totalmente infrutíferas. Acho que elas também não aguentavam me ver em casa e não poderem falar comigo. Sempre tinha algo, pai me faz uma massagem; pai, vamos ali comigo; pai, vamos à piscina; pai, vamos ver o filme... são tantos pedidos que sentirem imenso.

Hoje, ao levantar-me para começar a escrever e ver os espaços vazios, foi um tanto triste. Pensei nos momentos que mesmo disponível, não estava disponível para elas, na falta de paciência tão comum nesta fase de querer trabalhar e não conseguir. Comecei a ficar um tanto desanimado até que peguei a caneta e a folha para escrever uma carta de bom ano para começar. Foi terapêutico. Na escrita, foi possível lembrar dos vários momentos juntos e todas as alegrias que tivemos superaram, de longe, qualquer coisa que eu queira trazer para meu martírio ou condescendência.

Foram ótimas férias! Merecedoras do nosso pleno empenho e dedicação para torná-las maravilhosas. Fizemos muitas coisas juntos, viajamos, conhecemos lugares novos, enfim, foram memoráveis.

E agora que o frio já bate a nossa porta, lembramos que é hora de trabalhar. Foi bom as aulas começarem porque não somente valorizamos o ficar juntos como, também, voltamos a por nos trilhos os trabalhos atrasados.

Bom ano para toda a gente!

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

É muita mudança

Hoje, eu já estou com a minha blusa vermelha. A cor do sangue, da bravura e da valentia. Independente do que está por vir, para os próximos meses, dedicarei mais do meu tempo para o meu trabalho. Na verdade, não sei muito quando estou descansando e quando trabalho. Apesar de eu estar em atividades de família, com as crianças ou em dias que me dedico para outras pessoas, a minha cabeça sempre está a pensar nos temas que envolvem a tese que eu trabalho e tem que palavras chave normalidade, família, doença, condição genética e manipulação da vida. Por isso, apesar de estar em um momento que, supostamente, era de descanso como não me sento para escrever ou ler algo, a sensação é que estou sempre com algo atrasado ou errado.

Mas isso não é de tudo errado. Meu trabalho está em atraso. Contudo, como eu conheço o meu ritmo e intensidade quando estou em produção, dou-me a liberdade de ter um crédito para poder tentar ficar mais tranquilo e 100% nas atividades que me encontro. Mas, como vc pode ver, nessas breves linhas, já consegue perceber como a atribulação está presente no meu dia a dia. 

Eu devo confessar que pensava em fazer um texto organizando tudo o que está em minha cabeça. E a vantagem da escrita é que ela facilita uma certa clareza sobre o que pensamos. Provavelmente, não é agora que eu quero escrever tudo o que penso. Agora quero somente ter uma certa liberdade de escrever para mim mesmo e saber que essas linhas pouco interessam para outras pessoas. 

A fase final em que me encontro está correndo bastante difícil. Pensar onde estarei daqui a um ano é difícil demais porque ao mesmo tempo que há varias opções, tenho nenhuma. Posso estar em Portugal, Inglaterra ou no Brasil, mas onde é que as crianças estarão felizes?

É uma perguna um tanto difícil porque cada uma tem as suas próprias demandas. Enquanto uma é avoada demais para pensar no dia a dia, outra é concentrada demais para se superar a cada dia, a cada momento e a cada instante. Os extremos em minha casa são constantes.

Aí, chego a pensar se essa minha dúvida realmente tem em conta as crianças. Porque, por mim, sinceramente, acho que eu já fiz tanta coisa diferente e desafiadora que estou vendo o que acontecerá para frente. Na verdade, estou cansado. Queria somente um lugar que eu pudesse ter a confiança que estava bom tudo o que eu fiz. Um lugar que não me sentisse sugado o tempo inteiro, chupado, literalmente, até eu não ter mais forças. Porque, essas, estão perto do fim. Força para quê? Onde ela vai me levar? Blz, vou terminar um percurso acadêmico muito belo e desafiador, mas e depois? Vou para onde e vou fazer o quê? Voltar para o Brasil e ter que lutar, de novo, contra tudo e toda a gente? A não, não quero isso. Não tenho mais energia para fazer aquilo que me trouxe até aqui. Labutar sem descanso, articular, conversar, convencer e ser convencido sobre algo. 

Não dá mais! Ainda mais quando vejo que todo trabalho monumental que foi realizo, interessam somente para alguns, de maneira sincera. Porque o restante somente querem correr atrás do seu próprio lucro que, invariavelmente, é pessoal. Estou cansado! Está duro acreditar em algo. Meu conflito com a religião já passou e me distanciou demais de onde eu estava. Quando eu olho para trás e vejo a mudança que ocorreu, é o mesmo que eu enxergar outro homem. Que, quem sabe, aquele não teria qualquer amizade com esse. A minha firmeza e convicção de ontem transformaram-se em tantas reticências de hoje que, muitas vezes, vejo essas reticências como a vida se esvaindo. 

Eu não tenho qualquer receio da morte. Não tenho e, para mim, é algo que pode acontecer e, quem sabe, ser bem vindo. Já fiz muito e fui onde a minha imaginação nem chegava. Não quero continuar nesse cruzeiro a velocidade da luz! Acho que estou igual ao mergulhador de águas profundas que precisa estar confinado para despressurizar o seu corpo. Preciso de alguma máquina para despressurizar tudo isso que vivenciei. É muita mudança para pouca força.

sábado, 9 de julho de 2016

Coisas de Coimbra

Hoje, eu respondi algumas das perguntas que me chegam. Como foi um apanhado geral sobre Coimbra, acho que pode ser interessante para outras pessoas. A mensagem foi a seguinte:

A ambiente da Un. de Coimbra é muito bom. @s professor@s são abertos para conversas, novas ideias e proposições de eventos, seminários e artigos.

@s colegas discentes ou investigadores também possuem um diferencial interessante. Cada "cabeça" de uma linha de pesquisa é um outro mundo a conversar, conhecer, divergir e aprender. O incentivo ao debate é contínuo. Mas, ao mesmo tempo, dependendo do que deseja, você pode participar menos das atividades ou, até, ficar isolad@, se assim desejar. 

O primeiro semestre, que engloba setembro a dezembro, é mais produtivo. Depois, há uma série de festas da cidade e da Universidade que tornam tudo mais espaçado e menos corrido. Todavia, deve-se perceber que o prof. Boaventura está em Coimbra entre março e junho. Época em que ele profere as aulas magistrais. Depois de maio, que é a época da queima das fitas, até setembro, a cidade pára. Saem os estudantes, chegam os turistas e as atividades na Universidade desaceleram. Veja que sempre há atividade por aqui, o que muda é a intensidade e o volume de pessoas que participam. 

Outro ponto interessante, e se desejar, é realizar os contatos com profs. de outras universidades. O Brasil possui o maior número de investigadores/estudantes, mas há gente de toda a parte, principalmente, do "Sul Global".

O CES é uma arena política. O pensamento crítico é afiado e, seguramente, é o lugar certo para quem busca horizontes para militância e ação direta.

Para ajudar o ambiente universitário, a cidade de Coimbra é super charmosa. É pequena mas o leque de atrações culturais são vários e diversos. Também, possui um custo de vida baixo e é meio caminho para o Porto e para Lisboa. A única chateação é que não possui aeroporto perto.

Bem, acho que é isso, pensando no que eu poderia ajudar. Se houver alguma informação específica que queira saber, por favor, diga-me. 

=====
É só perguntar! ;))

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Ânimo

Pronto! Já estou em Coimbra. Foram dias muito intensos em Brasília. Além de trabalhar bastante, a agenda social com a família foi grande. A pena foi eu não ter conseguido encontrar todas as pessoas que queria e @s amig@s. Mas terá uma nova oportunidade.

Mais uma vez, continuo aprendendo muito nas conversas que tenho com as pessoas. As conversas são muito boas e nos ajudam a entender o porquê as pessoas agem da forma que vemos. Gostei muito.

Também, eu estive em um momento particularmente interessante. Em uma conversa amistosa sobre como estava a AMAVI e o campo das doenças raras em Brasília, fui indagado, não sei muito bem por qual motivo, qual foi o meu legado. Primeiro, eu nunca tinha pensado nisso porque ainda estou na ativa. Segundo, fui confrontado em um ambiente onde a influência do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras, realizado pela AMAVI e eu coordenador geral, estava por todos os lados e de maneira evidente.

Não sei se a minha resposta foi a melhor mas, por não ter reagido de maneira mais acertiva, fez com que eu saísse daquela conversa pensativo e um tanto frustrado. Acredito que todo fogo amigo nos surpreende. E aquele foi o caso. Nunca imaginei ouvir aquela questão e ainda de uma pessoa que tanto utiliza, de maneira direta e pessoal, os avanços que conseguiu por intermédio da AMAVI. Claro que eu não questiono o valor e qualidade individual da pessoa encontrar uma chance e conseguir crescer com ela. Mas o não reconhecimento de, pelo menos, perceber que o contatos que fazemos nos ajudam a abrir várias portas, é um tanto frustrante.

Mas, por outro lado, o que aconteceu foi uma coisa pequena diante de tanto apoio que sempre consegui por onde passei. E, tenho a certeza, que ao conseguir esses apoios somente fazemos com que uma rede seja aumentada e fortalecida. O fortalecimento dos nossos laços e a busca para sermos somente canais de passagens para outras pessoas além de tornar a vida mais amistosa faz com que a tornermos mais fácil.

Dentro do campo associativo, consegui manter alguns contatos que, depois, viraram amizades. Um desses contatos é a querida Lauda Santos e a Cristina Saliba. Para mim, as duas são fontes de coragem, grandeza pessoal e motivação. Continuo a aprender muito com elas e agradeço a amizade que conseguimos construir. Muito obrigado!

E, por fim, um motivo de orgulho gigante para mim e toda a minha família, foi a Menção Honrosa que recebi do GDF. É, particularmente, muito feliz porque reforça a minha lembrança de minhas origens, o motivo pelo qual comecei essa a minha nova vida e a construção de um legado que, espero, ainda está em construção.

Obrigado!

sábado, 11 de junho de 2016

Etapa BsB

Em casa. Passarei 20 dias em Brasília. É interessante voltar depois de 2,5 anos. Mais ainda em ver como nada muda a não ser a nossa percepção de como o nosso ambiente é conservador e ambíguo. Não tem bílis que aguente ver a Globo ou a Record. O pouco que se vê dessas emissoras é possível nos contaminar com o veneno do medo e com a ideia que nosso país está perdido.

Adorei andar pelas entrequadras. Ver a tranquilidade das pessoas andando debaixo do bloco e apanhando sol. Adorei ir ao lago Paranoá e ver todas as pessoas por lá, de todos os lados e credos. Muito bom! É possível sentir a vida e a riqueza do brasileiro.

E, em tudo isso, recebo uma mensagem sobre a etapa do doutorado. Simples, direto e claro. Revigorante. "Keep pushing."

http://matt.might.net/articles/phd-school-in-pictures/

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Interesse Público

Há alguns dias recebi de uma colega o documento que segue. Por causa da correria acabei deletando o email que o continha e, ontem, estava a sua procura. Por coinscidência, acabo de ler o seu conteúdo em uma das leituras matinais. 

Por ser um documento de interesse público e, finalmente, ver os servidores públicos cumprindo o seu dever de Servir ao Público, divulgo a nota e o documento da Frente Ampla de Trabalhadores e Trabalhadoras do Serviço Público pela Democracia:

No dia 13 de maio de 2016, há exatamente 15 dias, teve início no Brasil um (des)governo ilegítimo que, mesmo em tão pouco tempo, já sinaliza inúmeros retrocessos.

Neste contexto, a Frente Ampla de Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia, composta por um grupo de trabalhadores/as do serviço público federal preocupado com os ataques à democracia e suas consequências para o Estado democrático e para as políticas públicas, produziu e torna público hoje o documento #15DiasdeDesgoverno.
Este documento relata os retrocessos ocorridos nos 15 primeiros dias de governo Temer e sistematiza diversas análises, a partir da discussão sobre o “projeto” do PMDB, Ponte para o Futuro, e suas consequências para o desmonte das diversas políticas públicas e dos direitos sociais.
Clique aqui para acessá-lo na íntegra: https://yadi.sk/i/Phljp6SYs4u5e
#NãoEstáTudoBem #VaiTerLuta #VemPraDemocracia #FrenteAmpla #Se

terça-feira, 31 de maio de 2016

Contraponto

Quando chegamos em Portugal logo aprendemos que há um preconceito enorme contra os Brasileiros. Para o homem é o ladrão, e para mulher é a puta. Sem contar para o povo faz parte do país da putaria. Aprendemos, na porrada, que é preciso ficarmos atentos se não quisermos cair em piadinhas de mal gosto. O resultado é que ficamos um tanto céticos e desconfiados. Acho que mesmo quem vive no mundo do contente consegue ver esses posicionamentos.

Então (uma expressão Tuga para iniciar todas as frases), com o atual cenário do que acontece no Brasil vira um caldo cheio para eles encherem o peito, a boca e falar de nosso país. Alguns de nós, pelo complexo de vira-latas aceitamos todas as críticas e até reforçamos a suposta superioridade Lusa. Mas, convenhamos, eu tenho orgulho do que acontece em nosso país!

É lógico que eu me refiro ao povo. Esse que está nas ruas, organizados ou não. Ou aqueles que se organizam nos sindicatos dos servidores federais e derrubam ministros. Ou aqueles que, com muita bravura, defendem um posicionamento de luta pela democracia. Ou, simplesmente o outro, que se orgulha em levantar o olhar e somente dizer: Não vai ter golpe!

Sim. Temos que ter orgulho de nosso país, agora mais do que nunca. O que os sulistas europeus, que do alto de sua arrogância, não entendem é que estamos em luta. Lutamos em todos os espaços que podemos. Seja no judiciários, seguindo processos, ou na rua, onde o dono não é o mercado. Lutamos, por um país que vive uma democracia capenga mas que ainda pode contar com pessoas que acreditam nela. Lutamos contra um mercado conservador e predatório que pretende quebrar as pernas democratas que estavam por se erguerem, para implantar o quintal do Tio Sam, que somente há pouco tempo, não vê a sua sombra sobre um Continente. Lutamos, simplesmente, porque essa é a nossa sina.

A nossa sina de esperniar quando nos vemos enquadrados e de levantar quando a opressão é diária. Essa sina, raros sulistas europeus entendem e, quando entendem, partilham do sentimento de pertencerem a um forte e grande mundo. Um mundo que enquanto todos os outros se calaram diante do avanço da exploração do homem, se levanta para dizer que a Brava Gente Brasileira está em pé, em luta, brigando em momentos que muitos outros caíram. Porque o Congresso é o reflexo do mercado, mesquinho, conservador, podre, onde somente os seus iguais, brasileiros ou não, se reconhecem. O povo brasileiro é aquele que está nas ruas, na luta, organizados, para bradar que estamos vivos e somos livres!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Articulações

Ontem eu participei da fundação de mais um grupo em terras Lusas, o Esquerda Brasileira em Coimbra - EBRAC. Houve a participação de muitas pessoas e acho interessante como ver que uma simples e boa ideia pode trazer tantas contribuições e dos mais diferentes lugares.

Não faço parte d@s colegas que tiveram a oportuna e ótima ideia de iniciar o EBRAC, sou apenas mais um que entrou nessa onda de pensamento positivo e vontade agir.

Eu gosto muito de fazer parte destes momentos, principalmente, dos encontros onde podemos ouvir todas as pessoas. Para mim, mídia digital é uma ferramenta que deve ser usada e nada supera um bom encontro presencial.

Que o EBRAC tenha vida longa e prosperidade.

domingo, 15 de maio de 2016

Vamos

Não! sai pra lá! me deixa!
Não quero que você veja a minha queixa
Não! não quero que esse meu pesar
Esteja consigo somente a pensar

Você pensa que sabe
Mas não sabe que ontem
Eu vinha por ali sem pensar
O que é isso que nos levou para lá

Será que foi a ideia que eu tive naquela festa
Ou, pelo contrário, da ideia que não tive lá
Ou, quem sabe, foi uma ideia dos dois
Que macambuzos sem saber por onde andam
Ainda acham que por ali juntos vão

Não sei! Não quero saber! Sei lá!
Eu sei! Quero saber! Diz-me lá!

Juintos é certo que não vamos
Nem sozinhos tampouco seguiremos
Então segue o teu caminho como pensa
Porque do meu, eu sei mas tampouco eu já sei.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Fora!


Divagando

Hoje estou atribulado e, na verdade, não tenho certeza se é somente hoje. O andamento político no Brasil está muito tenso e, logicamente, a sua tensão reflete em nós.

Desde que o Lula foi coagido, até ontem, não conseguia me desligar das notícias que, invariavelmente, surgem pelo FB e grupos de zapzap. Passei do limite de onde eu devia ter parado e a consequência é que toda a minha pesquisa relacionada as entrevistas está atrasada. Esta parte é a mais cara para mim porque envolve as pessoas que convivem com o diagnóstico de Neurofibromatose.

E eu ando aprendendo muito com essas pessoas. Ao ponto que eu percebo que o nosso foco, de pesquisador, algumas vezes, pode mais atrapalhar do que ajudar. O guião que tomo para as entrevistas, invariavelmente, torna-se somente um guia porque as pessoas não querem falar sobre o que estou perguntando, que é a identificação dos itinerários terapêuticos e diagnósticos. Na verdade, essa percepção é somente das pessoas que possuem o diagnóstico porque os familiares querem e na verdade anseiam falar como que a NF alterou a sua trajetória de vida. Isso é bem interessante e, acredito, que me trará algumas ideias novas.

E vou ficando por aqui poque, afinal, devo recuperar o tempo perdido.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Autalizando

Desde que cheguei de Inglaterra, final de março, estou colocando 100% de minha energia na procrastinação. Primeiro porque a fase de entrevistas da tese abala um pouquinho o meu alicerce e, depois, a fase de escrita é bem árdua.

Gostei muito de fazer as entrevistas em UK e estou gostando mais ainda as de Portugal. A diferença é que enquanto no primeiro país eu consegui entrevistas com mães e duas pessoas que possuem o diagnóstico, no segundo, converso com as pessoas que vivem com o diagnóstico de NF. São duas visões muito diferentes e que estão, aos poucos, consolidando algumas de minhas hipóteses e refutando outras. Mas, de tudo, o que mexe muito comigo é assumir o chapéu de pai. Minha curiosidade naquilo que as pessoas vivem é muito próxima da minha própria vivência. Por isso, eu sinto uma responsabilidade grande de conseguir passar para o papel toda a riqueza que estou conseguindo captar no campo.

A escrita, bem... é um tanto doída. Não é fácil conseguir passar para um texto científico tudo o que estamos pensando e, muito menos, dentro de um formato rígido. Há pessoas que acham isso "mamão com açúcar". Mas no meu caso, que começo a minha vida acadêmica depois dos 35, é só "ferro e fogo". É muita paciência e serenidade para conseguir me colocar como um aprendiz. A minha sorte é que as pessoas que passam por mim, principalmente a minha orientadora, é super acessível e tem todo cuidado de me conduzir nos trilhos da academia.

Por querer voltar a algo próximo de minha atividade que consegui imprimir quando estava em Inglaterra (eu trabalhava mais de 70h por semana), já me excluí do Facebook e o Zapzap é somente para notícias urgentes.

Adiante!

sábado, 5 de março de 2016

Você não entende

Nos últimos tempos, ando pensando em não usar o FB ou o zapzap. Bem, este eu já não participo de qualquer grupo familiar porque tudo gera em torno de replicar em um grupo familiar as charges e a "a ideia politica" que aparece no FB. Seria ótimo se houvesse o debate político, em um grupo familiar, para toda a gente, oposição ou não. Mas não é o que acontecesse. As poucas vezes que dei uma visão contrária às charges ou notícias jornalescas, baseado em textos públicos e de fontes diversas, chamaram-me a atenção e vi os questionamentos: Vc não está no Brasil! Pensei que fosse esclarecido! Vc não entende nada!!!.. enfim, ataques pessoais e ofensas diretas. Por opção e para manter a minha calma, optei por não participar dos grupos familiares.

O FB é uma selva midiática que consome o nosso tempo sem, contudo, ser permeado por lucidez. Tanto que, quando pretendo passar o tempo sem pensar em muita coisa, é lá que fico lendo o que surge. Mas, lá tb há muita ofensa. A pessoa que posta charges chamando cidadãos que votaram em ideias divergentes as suas, são expostas como ignorantes e, até literalmente, burras. Quem faz isso não entende o que sentimos. É triste ver um ataque frontal e direto. Ainda mais quando lembramos que essas pessoas tb votaram no passado. Como elas podem achar que sempre votaram corretamente? A tristeza não é somente ver ataques pessoais, marginalizando um outro pensamento, mas, também, ver que as pessoas não enxergam a armadilha que se encontram. Por sorte, eu descobri o botão de não seguir no FB. Utilizei-o amplamente para não seguir aqueles/as que abusam nas ofensas e, claro, com colegas que consigo manter as divergências e conversas baseadas em fatos, ainda os sigo. Mas o restante, já não fazem parte de minha leitura ou atenção, mesmo que os mantenha como amigos/as e lembrando dos ótimos momentos que tivemos juntos. Tb isolei-me do FB por me sentir um estranho.

Mas nunca me senti sozinho ou desiludido. Mas ontem, ao ver aquela parafenália para a prisão de um ex-presidente, confesso que fiquei abalado. Era como eu estivesse recebendo uma cacetada na cabeça e dizendo: Volte para o teu lugar!!! Apanhe calado e você não tem direito algum de levantar a tua voz! Será que poderia acontecer o mesmo com o FHC, Lula, Alckmim ou até com o Maluf

Foi triste. E isso me marca como cidadão. Ali não era o Lula, mas o que se conseguiu com a sua ascenção. Me vi escoltado, escurraçado, humilhado.... eu vi o seu olhar irônico me dizendo: Volte para o teu lugar. Eu ouvi suas risadas e piadas na minha cara. Eu senti a bílis e a dor em saber que qualquer argumento para trazer alguma luz, será ridicularizado e amordaçado pela violência verbal e, podendo chegar a física. Porque sei que agora você mais do que nunca, pensa: Eu faço porque eu posso!. E eu não posso. Não posso dizer o que penso de maneira livre, eu não posso levantar e dizer a verdade evidente, enfim, eu não posso!

Eu não posso, porque vc não entende o que eu digo ou não quer entender. Todas as vezes que eu levanto alguma ideia, baseada em outras leituras que não a tua, vc me ofende, me pergunta se estou no Brasil e até se sou brasileiro. Vc vomita todo o seu conhecimento sobre o agora e esquece a nossa história e, tampouco, quer saber da minha história.

Assim como você, cresci em uma família da classe média em Brasília. Tb acho a minha cidade a mais bonita de todas e me indigna quando os não brasilienses, apesar de jogar o lixo deles em nossa cidade, enchem o peito para dizer que lá só tem bandido. Li Veja e assistia Globo. Às vezes outros canais e somente quando a Net ficou mais barata, comecei a ver os Telecines. Nunca fui rico, mas o que a minha família me deu foi extraordinário e o melhor que eu poderia ter. Eu conheci a história de meu pai aos 15 anos. Ali passei a idealizar algo que ficava entre o herói e o bandido. Ali eu percebi que a minha história era diferente. Mas eu não te falei. Tinha vergonha de falar que meu pai, como médico, atuou politicamente em 1964, levou-me, ainda novo, e a minha mãe para Aruanã, uma cidade no Araguaia. Não queria que vc soubesse que o prefeito da cidade e alguns políticos não gostavam dele de forma alguma, em compensação, toda a gente sempre falava com ele. E, muito menos, me horrorizava em dizer-lhe que não sabíamos o que aconteceu com ele, a partir de uma viagem que retornava à Aruanã. Dessa viagem e do seu sumiço, surgem várias teorias que nenhuma se encontra. Cresci ouvindo que meu pai era diferente e que ele ainda poderia estar vivo, em alguma parte da Colômbia ou Venezuela, como disse meu tio e teu melhor amigo dentro da família, ou ter sido morto durante aquela viagem, como outros argumentavam. Enfim, com o tempo e com as minhas pesquisas, seja em Brasília ou em sua cidade Natal, Curitiba, poucas informações se cruzavam, entre elas, a total ignorância sobre o que aconteceu e o fato que ele e a tua primeira esposa tinham sido presos e torturados durante aquela época. Eu não poderia contar isso para vc. Éramos da mesma turma, andávamos pelos mesmos lugares e, lá, não tinha nenhum tipo "dessa gente". Mas também te confesso que não ficava pensando muito nisso. Afinal, tínhamos uma vida inteira pela frente, apesar desse detalhizinho na minha história.

Segui a minha vida e fomos para  Universidade. A Universidade... A UnB foi a melhor experiência pessoal de minha vida. Lá eu comecei a perceber que a minha história era interessante e que das cidades satélites não saiam somente empregadas domésticas, encanadores, pedreiros ou serventes. Foi um tempo rico e de intensa experiência. Lá eu também achei a placa de formatura com o nome do meu pai. Resgatei o teu histórico escolar e vi que eu tinha a quem puxar em relação as minhas notas. E, acho que, como por encanto, compartilhei com vc um pouco de minha história. Apesar de eu conhecer a tua história. Contava-lhe uma coisa aqui e outra acolá, mas sempre em segredo. Afinal, eu tinha um tanto "daquela gente" impregnado em meu ser. Tudo foi bem, crescemos, tivemos nossas vidas e famílias. Mas no início de 2000 algumas coisas começaram a mudar lentamente, até chegar uma completa ruptura em 2010.

Foi em 2010 que eu comecei a retornar para os bancos da UnB. Acho que as leituras na fase adulta, apesar de atribuladas, são libertadoras. Por outro fato pessoal, foi também nessa época que eu percebi que estamos em posições totalmente diferentes. Mas, desta vez, eu não precisava ficar calado. Afinal, o cheiro "daquela gente" que eu tinha era muito mais agradável do que eu pensava. Confrontar os meus medos era muito mais prático e saudável que guardar e ruminar. Eu já não precisava esconder da onde eu vim ou o que eu pensava. Eu estava ali, confiante que, afinal, a minha história, como a sua, é linda. Que eu poderia me posicionar de uma forma totalmente diferente que a tua e de seus novos amigos. Que eu, afinal de contas, não precisava esconder que a minha história e as minhas vivências me colocaram em uma posição muito diferente da sua e da maioria, pq eu passei a me ver como pertencente a minoria.

Hoje, nós pensamos totalmente diferente. Enquanto que vc pode lutar para melhorar o que você tem, eu me esperneio para tentar garantir o pouco que consegui e, quem sabe, conseguir mais algumas coisas que podem melhorar o meu estado e de minha família. Não te vejo como um inimigo. Crescemos juntos e, quem sabe, se eu continuasse a viver do mesmo jeito ou se a nossa história fosse mais parecida, poderíamos até continuar pensando igual. Mas não é o caso. Confesso que, algumas vezes, fiquei com muito receio de contextar você. Mas, com o tempo, eu percebi que vivemos em um país onde toda a gente pode dizer o que quiser e, apesar de eu ser minoria, o direito é igual para toda a gente.

Foi duro ver o que aconteceu ontem. A primeira vista não entendi muita coisa, ou, quase nada, ou nem sei se vou entender. Mas ver um ex-presidente sendo levado daquela maneira, não me deixa confiante ou feliz. Se fosse o FHC, o sentimento seria o mesmo. São ex-presidentes de nosso país. Mas ver uma caça direcionada para um, sem considerar o outro e seus próximos, é claro que me perturba. Por que somente com o trabalhador e representante da "minha gente"? Por que, no passado, somente os presidentes ligados a classe trabalhadora não concluíram os seus mandatos e, no presente, são caçados desta maneira? Por que o mesmo não acontece com o prof. FHC? Por que, com tantas provas já publicadas diversas vezes, inclusive em livro, Privataria Tucana, não foi dada a mesma atenção? Os memorandos, as assinaturas, os comprovantes de despesas, estão todos lá para quem quiser ver! Será que foi coincidência a articulação entre a Justiça, a PF e a mídia? Eu acho que não. E é aí que vc me lembra que ser minoria em nosso país é duro. Tenta me lembrar, com essa parafernália da mídia, que não devo levantar a voz para contestá-lo. É assim que vc tenta destruir o orgulho que estava em construção dentro de mim. De poder falar abertamente, de não esconder o que eu penso, de contestar, enfim, de viver livremente, como vc.

Sim, foi um baque! Dói! e não aidanta lhe dizer que a dor é mais do que o sentimento para uma pessoa ou partido. Não adianta argumentar o que aquilo significa para mim. Você não importa com qualquer argumento que eu possa apresentar para me aproximar de você para, quem sabe, encontrarmos pontos comuns. E apesar de, repetidamente, eu lhe falar que eu defendo uma ideia à esquerda e não um partido, que não tenho vinculação política, vc somente me dirá: PTista filho da puta!!!

Enfim, espero que, no futuro, possamos seguir em frente, mesmo em posições distintas. Porque eu sei que o meu desânimo de agora é passageiro e essas linhas ajudam-me a ficar em pé novamente. Eu sei que continuarei de cabeça erguida e com a minha voz. Não vou ficar calado mas, também, não há o porquê chegarmos a alguma violência. Principalmente com vc, meu amigo. Vc é importante demais em minha história e, por isso, não ficarei calado. Mas, com licença, tenho que me organizar por aqui, já não me sinto como um estranho. Até breve.

Sds.


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