domingo, 22 de fevereiro de 2015

Poster para o Dia da Sociologia - Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra


O poster é um material apresentado em encontros científicos e que apresenta o resultado de pesquisas. No meu caso, é o poster da minha pesquisa de mestrado. É apresentado no Dia da Sociologia, em 26/02.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Epistemologia de onde mesmo?

Os devaneios que vivemos nesse caminhar acadêmico, muitas vezes, nos deixa um tanto cansados de nós mesmos. Cansamos de pensar constantemente, de não pensar, de ficar parado, de levantar, de se envolver e não envolver ao mesmo tempo, enfim, cansamos de estar.

Estar é difícil. Não conseguimos ser enquanto o estar é o que mais influencia as nossas ações. E, no fundo, o estar acaba por mexer com o nosso ser. Estar acadêmico não é o mesmo que ser acadêmico. Viver em um ambiente da academia, participar de debates, escrever artigo, tudo é uma parte do ser acadêmico mas, isso, ao mesmo tempo, não dá qualquer creditação para a pessoa ser acadêmica. Mas, então, afinal, o que é o ser acadêmico?

Penso, livremente, que ser acadêmico é uma forma de ver a vida. Há tantas gentes, inclusive eu, preocupadas em desenvolver seus trabalhos para publicação e divulgação. Mas, em uma mesma quantidade de pessoas,  os que não conseguem perceber a imensa contradição entre o escrever o que os outros fazem em uma visão de mundo própria, com o viver a razão das linhas escritas. Acredito que não é possível vivermos o tempo todo escorados pelo o que é escrito. Mas, também, quanto mais próximo do que se escreve, tanto mais próximo pode se estar do acadêmico.

Há uma série de pessoas que pensam estudar as comunidades que não são consideradas importantes. Ao mesmo tempo, pensam que fazendo isso, conseguem viver a militância e as práticas que existem nas comunidades. Mas é um tremendo sonho infantil ter esse pensamento. A pressão do que se vive no dia a dia, as construções que são feitas longe do olhar acadêmico e os resultados que aparecem a vista de todos são efeitos acumulados de lutas que já foram travadas ou que ainda estão em combate. Concordo, por experiência própria, que é possível conseguir captar vivências pelas experiências que se constroem em comunidade, mas nunca em períodos curtos de tempo ou em entrevistas. A tensão que existe em alguns pesquisadores em mostrar que são as pessoas que lidam com a observação participante revela, nada mais,uma tremenda insegurança em assumir que viu algo muito além do que pensava ou do reconhecimento da ignorância sobre o que se vive.

Acredito que, por isso, a militância nos assuntos acadêmicos é o grande diferencial dos estudos que podem ser produzidos na área social. A militância nos ensina a ter um sentimento bem distante da academia que é o sentido de urgência. O investigador militante é a forma de manter o descompasso entre teoria e prática menos largo. Mas, ao mesmo tempo, também afeta a forma que vemos o campo em que militamos. E isso é genial!!! É a oportunidade de assumirmos um lado de forma clara e lutar por aquilo que acreditamos.

Como toda luta, há muitas vivências que nos marcam para o resto da vida. Particularmente, na área da militância das doenças raras eu passo por um momento de reflexão muito grande. Nos últimos anos, dediquei 100% de minha força de trabalho para o desenvolvimento da temática de doenças raras no Brasil. Mudei toda a minha vida e, hoje, estou acadêmico em Coimbra. A militância, em um campo bem complexo ou com a mesma complexidade que outros que eu não conheço, hoje, deixa-me um tanto cabisbaixo. Consigo ver muitos efeitos positivos das ações que participei. Mas, ao mesmo tempo, percebo a mesquinhez de pensamento de muitas das pessoas que, até onde eu achava, lutava para um mesmo objetivo.  O pior é ver as manobras que fomos usados. É triste perceber como o acadêmico vai à militância com um olhar idealizado e o mesmo de alguns militantes de fora da academia. A militância é dura não porque todo o processo é difícil mas porque é vista como uma forma de outros conseguirem alcançar os objetivos específicos que elencam. Após o mestrado e nesta fase de estar doutorando, percebo muitas coisas que agi com o coração enquanto outros vigiavam as minhas ações com a cabeça. É duro ver, não! digo melhor, é duro sentir que fui somente uma pecinha de encaixe de uma quebra-cabeça complexo e, por enquanto, ainda não terminado. E eu vejo isso por causa da militância? Em partes. Porque enquanto eu estava no campo, tinha situações de desconforto que não me chegavam ao entendimento límpido que tenho hoje. Esse alinhamento entre a teoria e prática é uma luta constante e interminável.

Sorte para o pensamento juvenil do acadêmico que vai perceber as trilhas marcadas no campo e mais sorte, aliada a coragem, para o militante que abre o campo somente com o calor que vem do peito.


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