segunda-feira, 26 de maio de 2014

Visão romântica?

O interessante das aulas do doutoramento é podermos encontrar, mesmo dentro do curso de sociologia, visões muito diferentes e um tanto carregada de preconceito e estigmatismo. Em uma das aulas que frequento há uma intensa discussão sobre a necessidade de haver a construção conjunta do conhecimento entre a academia e a população. Na verdade, a posição do acadêmico que "ouve" as demandas do público é colocada em questionamento uma vez que esse ouvir, muitas vezes, é somente uma tentativa de confirmação das suspeitas iniciais do trabalho de pesquisa do investigador. Mesmo depois de quase dois meses de aula percebe-se que não há o avanço de algumas discussões onde as pessoas firmam o seu posicionamento, por exemplo, na crítica sobre a participação dos mediadores na construção democrática.

Ora, o princípio é que o ser humano, por sua própria natureza, não tem como manter uma posição neutra, por mais que se tente. Desta maneira, no papel da mediação sempre terá a intenção do mediador. Esse é um fato consumado e, acredito, não haver discussão. Contudo, para um militante que virou acadêmico, é difícil ouvir uma critica generalizada sobre o papel do mediador como se o sujeito estivesse pronto para realizar a manipulação da público, sempre para o lado do mais forte. Essa visão é um tanto errônea uma vez que, de maneira clara, ainda possui o preconceito de não ouvir a base e os movimentos sociais. Para falar sobre o papel da mediação é preciso perceber os diferentes contextos. A visão que existe os profissionais da mediação ou os mediadores que possuem um fim específico, logicamente, não está longe da verdade quando pensamos nos processos institucionais da saúde ou do orçamento participativo, ainda mais quando as associações civis que participam destes ambientes possuem a consciência do envolvimento político e, algumas, inclusive, distanciam-se destas construções por acreditarem que a ação local é mais efetiva.

Porém, essa generalização fere a grande maioria das pessoas que buscam a melhoria para sua comunidade, às vezes, com ações individuais. Os líderes de bairro, representantes de comunidade, de associações, vizinhança etc, em seu início, possuem a intenção de representar aqueles que convivem com uma realidade muito próxima da que ele próprio vivencia. Sem institucionalismo, as pessoas são livres para seguirem o que acreditam.

A crítica para o movimento social também dirige-se à academia, quando promulga-se que os estudos sobre a participação social são muito romanceados. Sem deixar o gelado da fúria que enche o coração chegar até as palavras com afirmações deste tipo, resigno-me somente em pensar: Será que essa pessoa, um doutorando, compreende que não existe romance no movimento social? Quando lemos os textos na linha do engajamento social e encontramos palavras como liberdade, emancipação, trincheiras, luta e outras do tipo, seguramente, não é de um romance que estamos falando. Pessoas que possuem a experiência no movimento social a partir da tela do computador, não conseguem entender o fervor de uma discussão entre os próprios militantes e a ginga que é preciso conseguir para ficar ao ombro de pessoas que representam o governo e grandes instituições. Não é de romance que estamos falando e muito menos os textos são para romancistas ou ingênuos. Os textos são o mais próximo do que um militante pode encontrar de incentivo e certa orientação. São portanto, visões de incentivo e coragem.

Ao mesmo tempo, como uma boa forma de contar o passado e a limitação causada pela relação TEMPO x AÇÃO, as palavras contadas sobre um estudo com a ação social pode não serem tão verídicas quando publicadas, mesmo poucos meses depois. O que é preciso decidir é o quão velhas serão elas serão. Como na visão do prof. Boaventura, o militante acadêmico não pode deixar que as ações de campo sejam jornais velhos.

Seguimos em frente, com os textos que, antes de tudo, representam a CORAGEM do movimento social!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Página Inicial